29 novembro 2006

Coitadas das Couves Portuguesas!

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Coitadas da couves portuguesas!

Hoje, o ministério da caça deu uma de agricultura! Copiando directivas comunitárias, brindou-nos (é quase Natal) com o decreto-lei nº 230/2006, que, ao longo de 34 páginas, fixa os limites máximos dos resíduos (LMR) de substâncias activas dos produtos fitofarmacêuticos permitidos nos produtos agrícolas de origem vegetal.

Entre dezenas e dezenas de produtos, fica o povo a saber que:

a) São suprimidas as rubricas referentes às substâncias activas desmedifame e fenemedifame;
b) Na rubrica referente à substância activa ciprodinil, são estabelecidos os valores de LMR de 15 mg/kg em alface, de 0,5 mg/kg em beringela e em pepino e de 1 mg/kg em feijão (com casca) e em pimento;
c) Na rubrica referente à substância activa difenoconazol, é estabelecido o valor de LMR de 2 mg/kg em aipo de caule;
d) Na rubrica referente à substância activa fenoxicarbe, é estabelecido o valor de LMR de 1 mg/kg em ameixa;
e) Na rubrica referente à substância activa fludioxonil, são estabelecidos os valores de LMR de 10 mg/kg em alface, de 0,3 mg/kg em beringela e em pepino, de 1 mg/kg em feijão (com casca) e de 2 mg/kg em pimento.

E por aí adiante com LMR’s para alhos, bananas, cocos, ervilhas, marmelos, nabos, melões, etc., etc., e couves, muitas couves, citando-se couves-de-bruxelas, couves de repolho, couves-chinesas, couves-galegas. E as portuguesas? A Comissão Europeia ignorou-as? O designado governo português ignora-as? Ou teve e tem vergonha de dizer que, em Portugal, um dos pratos típicos da ceia de Natal é o bacalhau cozido com todos sem faltar a couve portuguesa?

Coitadas das couves portuguesas! Envergonhadas, estarão escondidas na rubrica “outros” para não darem nas vistas aos parceiros europeus que as desmedifamam ou fenemedifamam...

Imagino um cidadão zeloso dizer a um honesto merceeiro (perdão, agora será empresário em nome individual especializado no abastecimento de géneros comestíveis e correlativos): ó senhor Sousa! Não me venda um couve portuguesa com LMR’s superiores aos “outros”. Iguais, vá que não vá, superiores, não! E imagino a resposta: éliémequê?

AMM

27 novembro 2006

PRIVILÉGIOS DOS JORNALISTAS

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Jornalistas, advogados-deputados e funcionários públicos ... “privilégios” e “privilegiados”

O Governo aprovou já o acréscimo a partir de 1/01/2007, dos descontos em 0,5% para a ADSE por parte dos funcionários públicos, com o argumento irrefutável no dizer do adjunto do “Xerife Sócrates”, Teixeira dos Santos, de que “não podem ser os portugueses a pagar os encargos de saúde dessa casta de “privilegiados” que são os funcionários públicos”!!!
Entretanto, o Governo mantém com o dinheiro de todos os portugueses dois subsistemas de segurança social e de saúde, os dos jornalistas (Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas - CPAFJ) e advogados (Caixa de Previdência e dos Advogados e Solicitadores) mais vantajosos que o regime geral da segurança social e o do próprios funcionários públicos.
Apanhado em falso perante tamanha incongruência, Teixeira dos Santos tentou emendar a face, anunciando a integração da Caixa dos Jornalistas no regime geral da segurança social e a diminuição da comparticipação estatal (através das receitas dos tribunais de 20% para 10%) para a Caixa dos Advogados.
Só que ...
A Caixa dos Jornalistas é presidida por Maria Antónia Palla (aliás, Maria Antónia Assis Santos), mãe do ministro António Costa (e do meio-irmão e editor de política da SIC Ricardo Costa), e os jornalistas contra-atacaram de imediato defendendo acerbadamente a sua dama, "porque está tudo bem quando se trata de acabar com os “privilégios” dos funcionários públicos em geral, mas alto e para o baile quando se trata de mexer nos “privilegiados jornalistas” (como se pode ver pelo último programa do Clube dos Jornalistas integralmente dedicado ao assunto ou pela sublime entrevista da presidente Palla à Pública de 26/11/2006 e do qual respigo estas “pérolas” do pensamento “pallista”:
«(Pública) Porque é que a Caixa de Previdência dos jornalistas havia de continuar, quando se está a acabar com os privilégios de outras classes profissionais?
(Palla) Porque a não considero um privilégio.
(Pública) Qual a diferença em relação aos outros subsistemas de saúde de carácter profissional?
(Palla) Não acho que os outros devam acabar. Há profissões que têm características específicas e que requerem regimes especiais para que se estabeleça de facto uma igualdade no acesso dessas pessoas à saúde.
(Pública) Os jornalistas reivindicam, com razão, o direito à crítica aos privilégios. Como podem querer uma excepção para eles próprios?
(Palla) Não querem uma excepção para eles. Eu apoio a luta dos polícias pela manutenção do seus sistema de saúde. Ser polícia não é o mesmo que ser sapateiro. Ser jornalista também não é o mesmo que ser caixeiro.
(Pública) E ser pobre? Os pobres, os velhos, os que não têm ninguém que os defenda, esses podem sujeitos às demoras, à desumanidade, à arbitrariedade na saúde?
(Palla) Isso é um chavão. Podia dizer alguma coisa sobre os velhos e a sua relação especial com os cuidados de saúde. Não é comparável. (...)

Certamente, por força desta campanha e das influências maternais da "presidente Palla" e, essencialmente. porque o poder político tem no mínimo “temor reverencial” dos jornalistas, logo o outro adjunto do Xerife, Vieira da Silva, veio desdizer o seu colega das Finanças garantindo a manutenção da Caixa dos Jornalistas "com o actual estatuto" e a presidente Palla após um encontro com o sub-adjunto do Xerife (leia-se Secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos) afirmou ter saído muito satisfeita do mesmo, o que prenuncia que tudo ficará na mesma ... quanto aos sistema dos privilegiados jornalistas.
No tocante à Caixa dos Advogados, o “lobbie” dos deputados-advogados da Assembleia da República, em sede das alterações à proposta OE para 2007 logo se prontificou a emendar a proposta das finanças aprovada na generalidade aumentando a comparticipação dos 10% para os 20% actualmente em vigor, pelo que também aqui tudo ficará como dantes.
A única certeza é de que os funcionários públicos esses sim virão aumentados os seus descontos para a ADSE em 0,5% a partir de 1/01/2007 !
Que conclusões tirar disto tudo ?
Pouco, apenas que esta gentalha (governantes, deputados-advogados e jornalistas ... ) não têm vergonha na cara, e que apenas estão interessados em tratar de si e dos seus !
Quanto ao Xerife Sócrates, qual émulo de Robin dos Bosques (que roubava aos ricos para dar aos pobres) cada vez se assemelha mais ao célebre Xerife de Nottinngham, redistribuindo rendimentos em sentido inverso e em que são os “que menos podem” a pagar e a sustentar “os que mais podem”.
CA

20 novembro 2006

INACTIVIDADE ESPECIAL

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17 novembro 2006

Inactividade especial!

Os deputados do pds – leia-se partido desse sócrates – aprovaram uma lei com a epígrafe Estabelece o regime comum de mobilidade entre os serviços (sic) dos funcionários e agentes da Administração Pública visando o seu aproveitamento racional. Veja-se a prosa errática na separata nº 41/X do Diário da Assembleia da República, de 30 de Junho de 2006.

Ao que parece, nenhum desses deputados sabe do que fala, porque a pretendida mobilidade não é entre os serviços, mas sim dos funcionários e agentes entre serviços, e a tal mobilidade especial não passa de uma mascarada de inactividade especial e forçada para quantos não tiverem meios de impugnar tiranias ministeriais. Para eles é o mesmo, e a Língua Portuguesa uma treta de Camões. Quantos deles terão lido a estância 145 do Canto X?

No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
De h~ua austera, apagada e vil tristeza.

Mas o que eles não sabem nem sonham é que, pela pena de Jorge de Sena, Camões dirige-se aos seus contemporâneos (que ainda somos mais de cinco séculos depois!):

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de saber melhor ainda
do que fingir que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado por meu,
até mesmo aquele pouco e miserável,
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

AMM

13 novembro 2006

O (palco) dos novos Condes d' Abranhos

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OS NOVOS CONDES D’ABRANHOS

Na “PESSOAL” de Julho de 2006, Filipe Seita Duarte glosava sobre a figura do Conde d’Abranhos, personagem literária criada por Eça de Queirós no romance com o mesmo nome, e que ilustra o político típico da monarquia parlamentar do séc. 19. Eleito cerca de 1850 deputado por Freixo de Espada à Cinta, lugar onde nunca tinha estado nem viria nunca a conhecer, tendo anos mais tarde sido nomeado Ministro da Marinha, apesar de detestar o mar e nada saber de tais artes, percurso que terminou com a concessão pelo Rei em 1860 do título de Conde d’Abranhos.
Eça ao longo do romance, ilustra genialmente as suas qualidades de “mentiroso”, “incompetente”, “oportunista”, “traidor sem escrúpulos”, e como tais “dotes” eram os talhados para o exercício do poder e para singrar na vida política no período do constitucionalismo monárquico do séc. 19.
Como Seita Duarte bem sublinha mais de um séc. passado, ao lermos hoje o romance Eça constatamos curiosamente que o actual sistema político funciona em tudo idêntico ao do séc. 19, com dois partidos a alternarem-se no poder (à semelhança dos dois partidos do constitucionalismo monárquico), governantes, deputados – todos sósias do Conde d’Abranhos nas suas virtualidades de «incompetência», «oportunismo», «mentira» e «traição» - clientelas políticas à espera de empregos, subsídios e de negociatas escuras e, como não podia deixar de ser, igualmente o mesmo desprezo pelo povo.
Parece que a única diferença é que a governação é feita agora civilizadamente e com o aplauso dos cidadãos, através de um instrumento inexistente à época – a “Televisão”, onde num dia, os novos Condes d’Abranhos peritos em finanças explicam como resolvem a questão das finanças públicas originada pelos próprios depois (de todos eles) terem gerido sucessivamente a pasta das finanças, noutro, novos e diferentes Condes d’Abranhos fazerem de comentadores debitando análises pretensamente objectivas da realidade política como se nada tivessem a ver com ela, e ainda noutro, vermos de uma assentada cinco novos Condes d’Abranhos, saídos directamente do parlamento, «verborreiando» sobre os problemas causados por eles próprios.
Triste País este, onde volvido mais de um séc., a realidade política permanece imutável, principalmente naquilo que possui de mais vil, torpe, sórdida e mesquinha ...
CA

10 novembro 2006

OS HERDEIROS INEFICIENTES

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OS HERDEIROS INEFICIENTES

A propósito de uma recente reportagem sobre os herdeiros dos grandes empresários nacionais onde, entre diferentes casos, se relatava como ruiu o império de uma das maiores construtoras portuguesas a “Soares da Costa”, primeiro com a desavença do legado entre os irmãos, após a morte do fundador da empresa, e que terminou agora com a venda da mesma pelo herdeiro remanescente Laurindo Costa, pelos vistos uma afamado “bom vivant” de caçadas, boa mesa, viagens com amigos e políticos, fez-me equacionar o problema da sucessão nas grandes empresas portuguesas.
Realmente, embora pouco falada esta é uma das muitas ineficiências da economia portuguesa, onde enfermam vícios e incapacidade, se destroem recursos e empregos e se perde riqueza.
Os herdeiros na maior parte das vezes recebem as empresas dos patrões fundadores por sucessões “dinásticas” social e empresarialmente injustas, não estão preparados nem reúnem as competências para as gerir ou pura e simplesmente não estão interessados em assumir o compromisso porque sentem que a riqueza acumulada pelo “patriarca” os dispensa do trabalho e incómodo de gestão da herança recebida.
Desse modo, empresas geradoras de riqueza passam a centros de incompetência, de conflitos familiares, de cobiça e destruição de riqueza.
Profissionalizar a gestão, torná-las competentes e eficientes não é fácil de entender por herdeiro, rico, fútil e incapaz.
Este é um problema muito esquecido (ninguém fala dele), mas a verdade é que existem de facto muitas empresas familiares, mal geridas por herdeiros ricos e incompetentes e que são uma das zonas de maior ineficiência da economia portuguesa.
CA