27 novembro 2006

Jornalistas, advogados-deputados e funcionários públicos ... “privilégios” e “privilegiados”

O Governo aprovou já o acréscimo a partir de 1/01/2007, dos descontos em 0,5% para a ADSE por parte dos funcionários públicos, com o argumento irrefutável no dizer do adjunto do “Xerife Sócrates”, Teixeira dos Santos, de que “não podem ser os portugueses a pagar os encargos de saúde dessa casta de “privilegiados” que são os funcionários públicos”!!!
Entretanto, o Governo mantém com o dinheiro de todos os portugueses dois subsistemas de segurança social e de saúde, os dos jornalistas (Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas - CPAFJ) e advogados (Caixa de Previdência e dos Advogados e Solicitadores) mais vantajosos que o regime geral da segurança social e o do próprios funcionários públicos.
Apanhado em falso perante tamanha incongruência, Teixeira dos Santos tentou emendar a face, anunciando a integração da Caixa dos Jornalistas no regime geral da segurança social e a diminuição da comparticipação estatal (através das receitas dos tribunais de 20% para 10%) para a Caixa dos Advogados.
Só que ...
A Caixa dos Jornalistas é presidida por Maria Antónia Palla (aliás, Maria Antónia Assis Santos), mãe do ministro António Costa (e do meio-irmão e editor de política da SIC Ricardo Costa), e os jornalistas contra-atacaram de imediato defendendo acerbadamente a sua dama, "porque está tudo bem quando se trata de acabar com os “privilégios” dos funcionários públicos em geral, mas alto e para o baile quando se trata de mexer nos “privilegiados jornalistas” (como se pode ver pelo último programa do Clube dos Jornalistas integralmente dedicado ao assunto ou pela sublime entrevista da presidente Palla à Pública de 26/11/2006 e do qual respigo estas “pérolas” do pensamento “pallista”:
«(Pública) Porque é que a Caixa de Previdência dos jornalistas havia de continuar, quando se está a acabar com os privilégios de outras classes profissionais?
(Palla) Porque a não considero um privilégio.
(Pública) Qual a diferença em relação aos outros subsistemas de saúde de carácter profissional?
(Palla) Não acho que os outros devam acabar. Há profissões que têm características específicas e que requerem regimes especiais para que se estabeleça de facto uma igualdade no acesso dessas pessoas à saúde.
(Pública) Os jornalistas reivindicam, com razão, o direito à crítica aos privilégios. Como podem querer uma excepção para eles próprios?
(Palla) Não querem uma excepção para eles. Eu apoio a luta dos polícias pela manutenção do seus sistema de saúde. Ser polícia não é o mesmo que ser sapateiro. Ser jornalista também não é o mesmo que ser caixeiro.
(Pública) E ser pobre? Os pobres, os velhos, os que não têm ninguém que os defenda, esses podem sujeitos às demoras, à desumanidade, à arbitrariedade na saúde?
(Palla) Isso é um chavão. Podia dizer alguma coisa sobre os velhos e a sua relação especial com os cuidados de saúde. Não é comparável. (...)

Certamente, por força desta campanha e das influências maternais da "presidente Palla" e, essencialmente. porque o poder político tem no mínimo “temor reverencial” dos jornalistas, logo o outro adjunto do Xerife, Vieira da Silva, veio desdizer o seu colega das Finanças garantindo a manutenção da Caixa dos Jornalistas "com o actual estatuto" e a presidente Palla após um encontro com o sub-adjunto do Xerife (leia-se Secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos) afirmou ter saído muito satisfeita do mesmo, o que prenuncia que tudo ficará na mesma ... quanto aos sistema dos privilegiados jornalistas.
No tocante à Caixa dos Advogados, o “lobbie” dos deputados-advogados da Assembleia da República, em sede das alterações à proposta OE para 2007 logo se prontificou a emendar a proposta das finanças aprovada na generalidade aumentando a comparticipação dos 10% para os 20% actualmente em vigor, pelo que também aqui tudo ficará como dantes.
A única certeza é de que os funcionários públicos esses sim virão aumentados os seus descontos para a ADSE em 0,5% a partir de 1/01/2007 !
Que conclusões tirar disto tudo ?
Pouco, apenas que esta gentalha (governantes, deputados-advogados e jornalistas ... ) não têm vergonha na cara, e que apenas estão interessados em tratar de si e dos seus !
Quanto ao Xerife Sócrates, qual émulo de Robin dos Bosques (que roubava aos ricos para dar aos pobres) cada vez se assemelha mais ao célebre Xerife de Nottinngham, redistribuindo rendimentos em sentido inverso e em que são os “que menos podem” a pagar e a sustentar “os que mais podem”.
CA