Inactividade especial!
Os deputados do pds – leia-se partido desse sócrates – aprovaram uma lei com a epígrafe Estabelece o regime comum de mobilidade entre os serviços (sic) dos funcionários e agentes da Administração Pública visando o seu aproveitamento racional. Veja-se a prosa errática na separata nº 41/X do Diário da Assembleia da República, de 30 de Junho de 2006.
Ao que parece, nenhum desses deputados sabe do que fala, porque a pretendida mobilidade não é entre os serviços, mas sim dos funcionários e agentes entre serviços, e a tal mobilidade especial não passa de uma mascarada de inactividade especial e forçada para quantos não tiverem meios de impugnar tiranias ministeriais. Para eles é o mesmo, e a Língua Portuguesa uma treta de Camões. Quantos deles terão lido a estância 145 do Canto X?
No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
De h~ua austera, apagada e vil tristeza.
Mas o que eles não sabem nem sonham é que, pela pena de Jorge de Sena, Camões dirige-se aos seus contemporâneos (que ainda somos mais de cinco séculos depois!):
Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de saber melhor ainda
do que fingir que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado por meu,
até mesmo aquele pouco e miserável,
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
AMM
Ao que parece, nenhum desses deputados sabe do que fala, porque a pretendida mobilidade não é entre os serviços, mas sim dos funcionários e agentes entre serviços, e a tal mobilidade especial não passa de uma mascarada de inactividade especial e forçada para quantos não tiverem meios de impugnar tiranias ministeriais. Para eles é o mesmo, e a Língua Portuguesa uma treta de Camões. Quantos deles terão lido a estância 145 do Canto X?
No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
De h~ua austera, apagada e vil tristeza.
Mas o que eles não sabem nem sonham é que, pela pena de Jorge de Sena, Camões dirige-se aos seus contemporâneos (que ainda somos mais de cinco séculos depois!):
Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de saber melhor ainda
do que fingir que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado por meu,
até mesmo aquele pouco e miserável,
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
AMM
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