19 julho 2007

AUTÁRQUICAS ... E PORTO DE LISBOA

Com as 10 medidas de emergência apresentadas para reabilitar uma cidade caótica e moribunda - marca distintiva de uma campanha pragmática e direccionada para os problemas mais sensíveis da autarquia, António Costa venceu, como se esperava, as recentes eleições para a Câmara Municipal de Lisboa. Do debate, que durante algumas semanas procurou mobilizar os lisboetas (aparentemente sem sucesso) ficaram algumas ideias que seria interessante que pudessem fazer o seu caminho pela mão da vereação socialista, a saber: tolerância zero para o betão, total prioridade à reconstrução da cidade (Telmo Correia); intervenção da CML no combate à especulação imobiliária, através da oferta de casa baratas (Sá Fernandes); redução drástica do número de assessores, de viaturas distribuidas a funcionários - cerca de 400 autoconduzidas!... - e de telemóveis (Telmo Correia) e extinção, no todo (Manuel Monteiro e Garcia Pereira) ou em parte (Sá Fernandes e Helena Roseta), das controversas empresas municipais.
Bastante mais controversa parece ter sido a ligeireza com que a maioria dos candidatos tratou o problema do Porto de Lisboa. A preservação actual do estuário do Tejo e das frentes ribeirinhas só tem sido possível graças ao papel atribuido à autoridade portuária na gestão desses domínios. Quando essa jurisdição passar para os municípios, assistir-se-á, mais cedo ou mais tarde, à maior ofensiva imobiliária e especulativa alguma vez vista no nosso país. E, depois, será tarde para arrependimentos! Pensar-se, por outro lado, que a gestão do Porto de Lisboa, pode ser confiada a um simples Gabinete, revela um desconhecimento absoluto da realidade do porto e do seu funcionamento. Amputar Lisboa do seu porto, em nome da vertigem fantasista de colocar meio milhão de lisboetas à beira rio, seria, por outro lado, contribuir decisivamente para a total descaracterização da cidade, retirando-lhe uma das suas mais significativas fontes de receita e de emprego. É fundamental recuar no tempo para perceber o papel histórico do porto na sua relação milenar com a cidade.
CP