15 dezembro 2009

OS SALTEADORES DA PÁTRIA PERDIDA

«Portugal não tem dimensão para se roubar tanto», Pedro Ferraz da Costa, Presidente do Fórum para a Competitividade e ex-líder da CIP (“Expresso de 15.08.2009)

O casos recentes ou mais antigos que retratam as redes de corrupção que abrangem agentes políticos do Estado e executivos da alta finança (Operação Furacão, Portucale, Freeport, BPN, Submarinos, Face Oculta, etc.) são realmente a visibilidade do estado a que chegou o regime democrático instituído pós 25 de Abril.
À sombra da ética republicana, assistiu-se a um conúbio entre o poder político e económico que propiciaram um quadro de oportunidades para um acumular súbito de riqueza dos políticos, como não há memória de presenciar.
Esses políticos, de um modo geral, chegaram ao exercício da política sem grandes recursos, que não fosse o sentido de oportunidade, a esperteza prática, a determinação e a dedicação dos ambiciosos, a resistência e o facto de pouco ou nada terem a perder.
À sombra do poderes instituídos, tiveram um sucesso para além de tudo o que podiam imaginar. E tiveram sorte: a cornucópia de fundos comunitários, os novos grupos económicos saídos das privatizações à procura de contactos, de acessos, de respeitabilidade, a acumulação de riqueza na bolsa, ainda por cima - numa época de media não submetidos aos ditames da falta de vendas que os não sujeitavam a escrutínio - abriu portas a riquezas suspeitas e a futuros insuspeitos.
Na fase formativa da sua vida política, de um modo geral jovens, vindos da província, formatados politicamente nas juventudes partidárias, provaram o fruto encantador e embriagante do poder e de tudo a que ele se liga.
Ganharam eleições, destruíram oposições, comandaram legiões, conspiraram, foram recebidos nos salões da alta burguesia renascida e nos “montes” senhoriais da velha aristocracia, acreditaram que Portugal mudara, que era um país novo e diferente do que lhes foi legado, e que se encontravam predestinados – bafejados pelas deusas da Oportunidade e da Fortuna – a ser nova elite que se perpetuaria no poder e nos poderes.
No fundo, quais caçadores da Arca Perdida do Indiana Jones, estes Salteadores da Pátria Perdida (sem rumo) têm vindo ao longo dos anos a roubar as parcas riquezas do País, sequestrando e escravizando os cidadãos.
Agora no momento de terem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram confiados e que se enterteram a delapidar num universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça, tiveram mais uma vez sorte: a sorte de contar com a lentidão de uma JUSTIÇA inepta e incapaz de investigar, julgar e punir devidamente tais crimes, a sorte de se apoiarem num JORNALISMO que de verdadeiro 4.º Poder em que só pela sua acção se sabia a verdade sobre os “podres” forjados pelos poderes político e judicial, passaram a esconder as verdadeiras notícias e a "prostituir-se" na sua dignidade profissional com a transmissão dos “recados” daqueles poderes, sentando-se à mesa dos corruptos e com eles partilhando os despojos.
Tudo isto lhes deu tempo: tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes de corrupção por parte dos agentes políticos do Estado e dos executivos da alta finança se torne habitual e seja por isso desconsiderada.
Tempo para que estas práticas sejam toleradas e de que nada se está a fazer para lhes pôr um fim.
Tempo enfim para se protegerem uns aos outros com o envio de uma mensagem cada vez mais interiorizada pelo comum dos cidadãos: nos grandes ninguém toca.
Depois de “salteadores da Pátria” tornaram-se eles próprios “intocáveis”.