29 dezembro 2007

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28 dezembro 2007

ESQUILOS NADADORES – a propósito de urbanismo, urbanizações, autarcas, árvores e animais.

Houve um tempo em que Portugal era um imenso verde cheio de pomares e florestas. Segundo parece, um esquilo podia atravessá-lo desde o Minho ao Algarve saltando de árvore em árvore.
Este é um dado que, seguramente, a maioria de nós não teve a possibilidade de conhecer, porque as árvores e os esquilos são enternecedores e inofensivos, e despertam a nossa unânime simpatia, ao contrário por exemplo dos construtores e dos autarcas que já suscitam opiniões mais desencontradas e além disso são peritos em urbanizar.
Muitos de nós temos passado a vida confundindo “urbanismo” com “urbanização”, mas graças a esses senhores ficamos sem dúvidas, enquanto os esquilos nem sequer tiveram possibilidade de as questionar. Esses afáveis roedores saltitantes, que ainda vão sendo vistos pelo parque de Monsanto ou em pinhais e eucaliptais do interior, deparam apenas que a coisa está actualmente muito mais complicada em termos de fauna e flora.
Não que pretenda cair agora na típica homília ecologista. Na realidade, cada vez mais me deixo levar pelo poderoso instinto predador dos tempos actuais, e agora estou quase convencido de que deveríamos procurar desenvolver até aos limites, todos e cada um dos recursos do planeta “TERRA”, e logo urbanizar o resto da galáxia enviando naves espaciais repletas de gruas, construtores e autarcas enchutando-os daqui para fora.
Não se trata de ecologismo barato, mas apenas que os esquilos são tão meigos que estou sentidamente preocupado com eles, se é que algum consiga sobreviver no nosso solo. Inquietam-me porque temo que os pobres roedores não saibam nadar.
Explico-me: ao viajar por Portugal constato que o país de norte a sul, das grandes cidades à mais recôndita vila ou aldeia, está tomado pelas gruas de construção e por uma febril edificação de prédios, vivendas e de outro tipo de edifícios por tudo quanto é terreno ainda livre. É a forma que têm os políticos-autarcas e construtores civis de nos ensinar “urbanismo” isto é “urbanização”, para que não vivamos num território selvagem cheio de bichos e florestas verdejantes, e tenhamos todos uma boa hipoteca predial que é a única coisa que parece unir as famílias de hoje.
Num conto de John Cheever, “O Nadador” (The Stories of John Cheever, tradução portuguesa de José Lima, edição da “Tinta Permanente”) o protagonista quer atravessar a nado o condado em que reside através das piscinas dos seus amigos e vizinhos. Creio prenomitoriamente que é o que sucederá entre nós daqui a algum tempo quando as urbanizações tiverem substituído totalmente as árvores e os esquilos tenham que ir de uma ponta à outra do país. Estou alarmado.
Assim modestamente proponho que vamos ensinando os esquilos a nadar. Já !
CA